ESCRAVA ISAURA
40ANOS
"é toda uma vida acompanhando"
Por Paula Prata
Admiração de fã se transformou em amizade e reconhecimento
O tempo dedicado à pesquisa fez com que Aladim já se tornasse um nome conhecido entre figurões do ramo de telenovelas. Foi com Mauro Alencar, especialista em dramaturgia, que ele escreveu o livro “A Hollywood Brasileira – O Panorama da Telenovela no Brasil”. Entre as obras abordadas não poderia faltar, é claro, Escrava Isaura. Em 2014, Aladim chegou à final do jogo “8 ou 800”, no programa de entretenimento Vídeo Show, respondendo a perguntas sobre a carreira da atriz.
- A última pergunta, eles me derrubaram, eles queriam que eu perdesse. Eles botaram uma cena de “Malu Mulher”, em que a Lucélia fez uma participação. Colocaram a cena e me perguntaram qual era o livro que estava embaixo da cama que as duas estavam sentadas.
Arquivo pessoal
A exibição do filme “A Serpente” para convidados ocorreu dia 15 de outubro no Festival do Rio. No elenco, nomes marcantes como Matheus Nachtergaele, Sílvio Restiffe, Céllia Nascimento e Lucélia Santos. No cinema Roxy, em Copacabana, uma novidade: representando a protagonista, que estava em viagem ao México e não pôde comparecer, estava Aladim Miguel, fã de Lucélia há 40 anos.
A admiração, que o tempo e as circunstâncias transformaram em amizade, surgiu junto com a estreia da atriz na TV Globo. Na época, com apenas cinco anos de idade, Aladim já se encantou com a performance da moça que protagonizava a novela “Escrava Isaura”, a quinta novela a cores do horário das seis na emissora. Até 1982, acompanhou religiosamente as três reprises da história nos diferentes formatos de exibição e, no começo dos anos 80, deu início ao que seria o Arquivo Lucélia Santos, a maior coleção de conteúdo existente sobre a atriz.
Resolveu começar, pouco tempo depois, as tentativas de contato com Lucélia. Em 1988, enviou uma carta ao programa “Sem Censura”, comandado por Lúcia Leme na extinta emissora TVE-RJ, dizendo que era muito fã da atriz e que tinha todo aquele material catalogado e expressando o desejo de conhece-la pessoalmente. “Fizeram uma reportagem comigo, esperando que ela visse”, ele lembra, “ela não assistiu, porque não estava no Brasil, mas alguém mostrou para ela”. A participação no programa deu resultado: Lucélia ligou para a casa de Aladim e convidou-o para um almoço de família, com os pais e a irmã da atriz, na casa dela. Jamais passou pela cabeça a possibilidade de a ligação ser um trote, “eu sabia que não era, porque reconheci a voz”.
A pedido de Lucélia, Aladim levou à casa de Lucélia, no Itanhangá, todo o material que já tinha selecionado para sua coleção. “Eu tive que alugar um táxi para levar tudo, porque eram mais de seis mil fotos dela, os discos de trilha sonora, todos os livros de todos os lugares onde saiu a novela”. A quantidade expressiva de material, incluindo fotos que nem mesmo Lucélia se lembra de já ter tirado surpreendeu a atriz, que assistia estupefata enquanto ele descarregava o táxi. “Ela viu e perguntou ‘ué, não acaba esse material?!’”.
Tendo reconhecido o esforço e a habilidade de Aladim em agrupar todo o material possível, Lucélia começou a contribuir para o crescimento do acervo. “Por onde ela vai passando ela traz material”. Ela entregou a ele, por exemplo, um álbum de figurinhas cubano sobre a novela, que fazia parte de um programa de incentivo à reciclagem no país. “O álbum era gratuito, e as pessoas ganhavam as figurinhas quando levavam material para reciclagem”. Além das contribuições de Lucélia, o arquivo – que já está completo para consulta na internet – também ia crescendo com pesquisas de Aladim. Contador por profissão, ele dedica o tempo livre a coletar tudo o que pudesse agregar à coleção, que graças a tanto esforço, já é expressiva. “É toda uma vida acompanhando. Eu fiz muita pesquisa na biblioteca nacional, eu tirei foto...”.
Sobre Lucélia Santos, a opinião de Aladim é categórica: “ela vai virar uma lenda, um ícone”. O carinho dele, que atraiu a atenção da atriz, já rendeu depoimentos afetuosos dela. “Eu me sinto muito feliz com isso, eu me sinto sinceramente agradecida por todo o esforço, por toda a dedicação, por todo o trabalho, investimento, carinho que o Aladim, essa pessoa maravilhosa, me doa tão generosamente”, consta na área de biografia, em “Aladim Miguel por Lucélia Santos”, do site do arquivo.
A amizade, que surgiu há tantos anos, se mantém. O contato entre os dois é frequente e, para uma entrevista que contribuiu a preparação deste website, Lucélia – muito ocupada com a divulgação do filme mais recente – inclusive deu recomendações a Aladim: “boa sorte na palestra, me representa direitinho!”.