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no século XXI, os vestígios do tempo de isaura

Por Nathalia Ghelfenstein

Cícero R. C. Omena

De acordo o jornalista Marcel Gomes, secretário-executivo da ONG Repórter Brasil, a qual é referência sobre o combate do trabalho escravo no país, o Brasil tem fiscalização e sociedade civil atuantes, além de políticas públicas de repreensão a escravidão reconhecidas internacionalmente, como a criação do programa Marco Zero pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), que realiza um intermédio na relação entre empregador e trabalhador, porém há obstáculos que impedem a realização efetiva de controle:

- Há graves problemas nas linhas de frente quem têm sido acentuados, como a redução de direitos trabalhistas e a diminuição de investimento em instrumentos de fiscalização, a policia federal está quase sem contingente, explicou.

No que se refere a submissão de trabalhadores a tais condições, para Marcel é um conjunto de fatores. Desde a própria desvalorização do trabalho no país, a competição entre empresários, como nas redes de fast fashion por exemplo, que visam um preço abaixo da concorrência, o qual é pago pelo próprio empregado, a condição socioeconômica, a falta de informação e a vulnerabilidade dos trabalhadores, esta última principalmente por parte dos estrangeiros, como os bolivianos: 

-A maioria dos brasileiros já sabem os direitos, têm mais consciência, são menos vulneráveis, disse. 

O secretário-executivo da ONG Repórter Brasil ainda acrescentou a necessidade de um fortalecimento de imediato em vários setores para a repreensão da prática:

- Tem que melhorar o Marco Legal ou pelo menos manter, assim como a fiscalização, não se abre mais concurso público para fiscal no Brasil. Precisa também de políticas públicas de alto rendimento para a inserção social de quem for resgatado, pois muitos voltam, ressaltou.

É muito comum que o trabalhador liberto seja novamente aliciado, este é o chamado Ciclo do Trabalho Escravo e, por isso, Marcel reafirma a necessidade de assistência as vítimas.

Um outro aspecto intrigante sobre a escravidão contemporânea, é a verificação de um aumento em lugares pouco tradicionais, como na área urbana, que teria como uma das causas a terceirização. Mas que de acordo com Gomes o crescimento é decorrente de um maior enfoque da fiscalização principalmente no setor de construção civil e confecção têxtil, que se intensificou a partir o ano de 2010. 

Convém ressaltar que a sociedade tem um papel fundamental no controle de tais atividades ilegais, principalmente quando se trata da disseminação da cadeia produtiva: 

- Tem que saber a procedência da origem dos produtos, nos EUA e Europa por exemplo, já tem um rastreamento da matéria-prima, acrescentou. 

 

Consumo Consciente 

 

Já em relação indústria têxtil, há disponível um aplicativo de celular, inclusive criado pela própria ONG Repórter Brasil, que avalia as principais empresas varejistas de roupas do país, inclusive as que já foram autuadas pelo Ministério do Trabalho e Emprego, por utilizarem trabalho escravo, como foi o caso da  Zara, Riachuelo, M.Officer, Le Lis Blanc e outras. 

 

Para Betina Monte-Mór, formada em design de moda, estudiosa e defensora de um consumo consciente, a moda é considerada um fator social, que induz um consumo imediato, excessivo e superficial, que impede a maioria das pessoas de questionar a origem do processo de produção, as tornando alienadas e cada vez mais dependentes. Entre os artigos publicados na internet, inclusive o próprio projeto final da faculdade, Betina acredita não ter dúvidas sobre a relação entre consumismo e escravidão:

 

- O que está por trás das empresas é o lucro, e uma das formas é diminuir os gastos de produção, a mão de obra, e acaba que temos empresas hoje em dia que escravizam as pessoas. Sem dúvida esse consumo desenfreado não só na moda estimula esse tipo de processo. Na verdade antes das pessoas quererem comprar mais as empresas querem vender mais para gerar o desejo de consumo, contou Betina. 

Para ela a sociedade ainda é muito mal informada, mesmo com a difusão do tema através de filmes, documentários e programas de TV:

 

- Ainda é uma parcela pequena da população que para e pensa sobre isso, que recebe esse tipo de informação e decodifica, comentou. 

Sobre alguma possível mudança nos padrões de consumo da sociedade, Betina se diz otimista: 

 

- Acho que se eu não acreditar em uma mudança eu acho que eu paro e entro em parafuso. Essa é a única saída na verdade, a gente chegou num pico, e se não descer a ladeira agora o mundo entra em colapso, disse a ativista.

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