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“O mundo vai te odiar, mas é um grande personagem.” Herval Rossano, diretor

Por Yasmim Restum

Conhecido no mundo inteiro pela participação na novela Escrava Isaura, Rubens de Falco tem uma trajetória que esbanja paixão pelo teatro. Ele, que considerou hipotecar a própria casa para pagar dívidas de uma peça mal sucedida, chegou a representar a teledramaturgia brasileira em festivais internacionais e a receber elogios de Gregory Peck.

Com quase 40 trabalhos para a televisão, 50 para o teatro e 30 filmes na carreira, Rubens viajou por vários países levando a cultura brasileira mundo afora.

 

Mas todo o amor pela profissão parece ter sido despertado quando Rubens era garoto. Ainda na escola, o ator dizia que a professora de Português dava uma aula encenada – mas isso era porque ela também lecionava na Escola de Artes Dramáticas. Foi assistindo às aulas de Leila Cury que surgiu o gosto pelo palco.

 

“Comecei a perambular pelos teatros ...  Eu queria saber do métier, como é que aquilo funcionava”

 

O garoto que tinha terminado o ginásio Científico (atual Ensino Médio) em Porto Seguro decidiu voltar para São Paulo certo de que queria mesmo fazer teatro. Logo quando começou a fazer seus primeiros contatos no ramo, estreou no teatro amador com a peça Corda, de Patrick Hamilton. Pouco depois veio o convite para fazer um dos primeiros teleteatros brasileiros, em 1952 – dois anos depois que a televisão tinha chegado ao Brasil: uma adaptação de Helena, de Machado de Assis.

 

Antes de ser de Falco, ele foi Costa.

Curiosamente, o ator não foi sempre conhecido como Rubens de Falco. No início da carreira, começou como Rubens Costa. O próprio ator esclareceu sobre a mudança do nome artístico em Rubens de Falco – Um Internacional Ator Brasileiro, livro biográfico feito com o depoimento colhido pela atriz e amiga Nydia Licia:

 

Até então, em todos os programas de teatro, eu aparecia como Rubens Costa. A mudança para Rubens de Falco teve origem quando, no Teatro Íntimo Nicette Bruno, estávamos fazendo o Brasil Romântico. O senhor Oswaldo Orico, pai de Vanja Orico, a atriz do filme O Cangaceiro, foi assistir à peça e depois, conversando com a gente no camarim, começou a fazer a numerologia dos nossos nomes. Para mim, ele disse que o nome Rubens Costa era muito comum. Perguntou se eu não podia acrescentar um outro nome. E eu lembrei do Falco. Ele disse: Não. Dá 11 letras só.

- Pode ser de Falco.

- Perfeito, 13 letras!

E minha vida mudou totalmente.

Da hipoteca à Juscelino

 

No final da década de 50, Rubens criou a Companhia Brasileira de Comédia. A primeira peça foi A Folha de Parreira, de Jean Bernard Luc, no Teatro Cultura Artística.

 

Nessa época, aprendeu o que, para ele, é o grande segredo da atuação: passar emoção para a plateia, mesmo sem sentir. “Isso é uma dica que eu nunca mais esqueci na vida.”

 

Não demorou muito para outras figuras ilustres da cena teatral brasileira começarem a querer produzir trabalhos com Rubens. Logo depois da primeira peça, o diretor polonês Ziembinski montou um texto de Nelson Rodrigues, O Boca de Ouro – que contava com cenários de Gianni Ratto e um elenco bastante conhecido – que custou quase um milhão de cruzeiros.

 

Mas o espetáculo foi proibido pela censura.

 

Desesperado, o ator reuniu dezenas de intelectuais da área para convencer a censura de que o espetáculo valia a pena. Estrearam para os militares e foi um sucesso. Diante da boa repercussão, a companhia programou-se para ficar em cartaz pelo menos por uns quatro, cinco meses. Só que o entusiasmo durou apenas 15 dias de teatro vazio. Tendo que pagar o elenco, a produção e as próprias contas, Rubens recorreu à mãe e a pediu para hipotecar a casa da família.

 

A Caixa Econômica, no entanto, esclareceu que para valores acima de 1 milhão de cruzeiros, só se houvesse ordem do Presidente da República. Rubens marcou audiência com Juscelino Kubitschek, quem simplesmente deu o dinheiro a Rubens para salvar a Companhia Brasileira de Comédia.

 

Leôncio: um presente do diretor Herval Rossano

 

Em 1975, Herval Rossano insistiu para que Rubens participasse do elenco da novela ‘Escrava Isaura’, numa adaptação do romance de Bernardo Guimarães. No entanto, o ator já estava comprometido com uma novela da Ivani Ribeiro para o SBT, ‘O Espantalho’. Mas Herval insistiu: “Você vai lá, vai dizer que você não vai mais fazer a novela; você vai fazer o Leôncio. O mundo inteiro vai te odiar, mas é um grande personagem. ”

 

“Jamais alguém pensou que aquilo fosse ser um estouro mundial” 

 

Segundo o ator, a novela era uma produção barata, pobre e com um elenco pequeno, mas que brilhava com o texto de Gilberto Braga, quem criou personagens e alterou partes da história – o que, para Rubens, não só estimulava o elenco como um todo, inclusive aqueles que estavam dando início à carreira, como Edwin Luisi e Roberto Pirillo, mas também contribuiu para o sucesso mundial da trama.

O ator contou que não foi repassado qualquer dinheiro ao elenco pela venda do texto da novela mundo afora, mas destaca as inúmeras viagens que fez acompanhado de Lucélia Santos (Isaura) e Edwin Luisi (Álvaro), chegando à 11 idas à Europa em apenas um ano. Na Polônia, por exemplo, quando foi junto de Lucélia para o lançamento da novela, Rubens contou que a recepção foi indescritível, as ruas abarrotadas de fãs aplaudindo os atores que sequer entendiam o que lhes estava sendo gritado.

 

O ator faleceu em 2008, aos 76 anos, em decorrência de uma parada cardíaca, provocada por uma embolia.

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