top of page

Passado como Isaura assombra carreira dE ATRIZ LUCÉLIA SANTOS

Por Paula Prata

“Isso é passado. Não tenho interesse. Há muito material. No Arquivo Lucélia Santos e o próprio Aladim Miguel adora falar sobre A Escrava Isaura. Estou intensamente mergulhada no presente. Há muito o q fazer. De qualquer modo muito obrigada.
Lucélia”


Esta foi essa a resposta de Lucélia Santos à solicitação de entrevista da equipe da PUC-Rio para desenvolvimento da reportagem sobre os 40 anos da novela “Escrava Isaura”. Já há 25 anos sem contrato com a Globo, a atriz não esconde o desapontamento com a emissora e o incômodo de ser vista até hoje como uma atriz de um papel só. “Tive de sobreviver à rejeição artística deles”, declarou em entrevista à Veja Rio, em setembro deste ano.


Isaura foi o primeiro papel de Lucélia na emissora. Nascida em Santo André, no ABC Paulista, em 20 de maio de 1957, Maria Lucélia dos Santos começou cedo nos palcos. Filha de dois ex-operários e segunda de três irmãos, estreou no teatro aos 14 anos, na peça infantil “Dom Chicote Mula Manca e seu Fiel Companheiro Zé Chupança”. Na época, ela substituiu a atriz Débora Duarte, que saiu da produção para trabalhar na novela “Bicho do Mato”, da Globo. O professor de teatro Eugênio Kusnet foi o responsável pelo convite para que Lucélia fizesse um curso de atuação dois anos de duração.

Ao fim, estreou no Rio com o musical “Godspell”, aos 17 anos. O pai insistia que ela não largasse os estudos e, por isso, prestou vestibular para medicina. O foco na carreira de atriz impossibilitou o ingresso no curso, e Lucélia trabalhou como recepcionista de uma clínica de emagrecimento – o único emprego além da atuação – para conseguir se manter na cidade, longe dos pais.

Durante a montagem da peça “Transe no 18”, foi descoberta por Herval Rossano, diretor de “Escrava Isaura”. Antes de ser convidada para protagonizar a obra, ela fez testes para trabalhar nas novelas Estúpido Cupido e Gabriela, mas não foi selecionada por, de acordo com o diretor Walter Avancini, não ter o biótipo da estrela global. Com o convite de Herval e do roteirista Gilberto Braga, Lucélia se lançou para o reconhecimento mundial em um papel que marca a carreira da atriz até hoje. O clima nas gravações, segundo o co-protagonista Edwin Luisi, era de integração total. Ele contou, inclusive, que Lucélia foi quem o fez se sentir confortável na estreia na emissora. “Ela me pegou pela mão e não me abandonou até o final”.Em dez anos logo após à estreia na Globo, Lucélia participou de dez novelas na emissora. Havia momentos em que ela participava, ao mesmo tempo, da produção de televisão, teatro e cinema. Em junho de 1982, entre as novelas “Ciranda de Pedra” e “Guerra dos Sexos”, Lucélia estava cada com o maestro John Neschling, com quem teve o único filho, Pedro. O ritmo intenso de trabalho, no entanto, não demorou a terminar. O último grande papel da atriz na Globo foi como protagonista da novela “Sinhá Moça”, em 1986. Ela ainda voltaria à emissora para participar de “Malhação”, em 2001, mas a presença forte se extinguiu, realmente, nos anos 80.


Lembrança apenas de Isaura incomoda Lucélia Santos
    

Lucélia atribui esse afastamento da tela a uma presença muito marcante do papel de Isaura em sua vida. Segundo Aladim Miguel, grande fã e dono do portal Arquivo Lucélia Santos, “as pessoas acham que ela só fez a Escrava Isaura, e isso irrita ela”. Ele explica, também, que a atriz sente como se tivesse perdido o controle sobre sua imagem. No entanto, a escrava branca não deixa de ser o papel preferido da atriz. Em entrevista ao programa da Marcia Peltier, Lucélia comentou o assunto.


“Eu acho muito bonitinho que as pessoas me identifiquem com a Escrava Isaura porque foram milhões de pessoas que viram (...) As pessoas identificam a minha imagem de doçura, de amor, de pureza com a personagem. Mas de lá pra cá, a fila andou. Passo pra outro assunto logo e pronto, já ficam satisfeitos. Mas é uma coisa bem chata, porque parece que eu não fiz mais nada na minha vida inteira, só a escrava Isaura”.


Em outubro de 2016, no entanto, a atriz fez uma participação especial no programa Vai que Cola, do canal fechado Multishow, vestida como Isaura e falando abertamente sobre o papel e a novela.
 

Atualmente, Lucélia se dedica principalmente ao teatro e ao cinema. Quarenta anos depois do papel que gerou reconhecimento mundial, ela se ocupa divulgando o vigésimo segundo filme do qual já participou, o longa A Serpente, baseado em uma obra de Nelson Rodrigues. Ela não esconde, no entanto, que gostaria de vencer a resistência e a relação exclusiva de seu nome com o de Isaura para, então, voltar a interpretar grandes papéis televisivos.

bottom of page